Este é o título de um dos capítulos do Livro Entendendo o Humor, da pesquisadora brasileira Aracéli Martins, que é inteirinho sobre o Mullá.
Vejam que imagem Nasrudin passou para Aracéli: a de um doidinho engraçado. Bem feito pra ele. Fica fazendo uma bobagem atrás da outra!
Mas eu percebo que, no fundo, a moça admira o Mullá (cá entre nós, não sei bem por que razão). Imagine que ela faz uma comparação entre ele e Freud. Quer dizer, uma comparação meio às avessas, mas faz. Diz que enquanto o criador da psicanálise explica o riso (será que foi isso mesmo que ela disse? huuum!.. é por aí....), Nasrudin não faz questão de explicar nada. Melhor ler diretamente as palavras dela: “Ele complica, enrola e joga todos os esforços da racionalidade por terra. Ter sentido sempre, cansa”.
Será que cansa? Quem sabe, né? Eu acho tudo isso muito estranho. Às vezes penso até que a pesquisadora tá “tirando uma” da cara dele, mas uma coisa não posso negar: a definição que ela faz do Mullá pode não ser a mais positiva, mas pelo menos mostra que ele é corajoso: “É um rei do nonsense, a piada que funciona por desafiar a lógica bem comportada.”
Logicamente, aqui não dá pra contar tudo que ela fala no livro (ah! se ela me autorizasse a publicar o capítulo inteiro....). E, depois, esse texto já tá ficando longo e chato. Preciso terminar rapidinho. Tem só mais duas coisinhas ditas por ela que eu queria reproduzir aqui, pra ver se vocês me ajudam a entender: a primeira é complicada, difícil de engolir, mas tem lá seus elogios.
Começa dizendo que apesar de Nasrudin ser considerado uma espécie de professor (segundo ela, as palavras Mullá e Hodja querem dizer sábio e mestre), muitos de seus encontros com os “alunos” ocorrem em situações “difíceis e nada gloriosas” e isso faz com que ele não pareça um exemplo a ser seguido (elementar, meu caro Watson). Palavras dela: “Um mestre em ridículo é algo intragável para a mentalidade que só admite “vencer ou vencer” (alguém sabe do que ela está falando, meu?).
Depois vem uma parte que põe o Mullá em situação de vantagem em relação a todos nós (vá entender essa moça). Ela diz assim: “mas é de dentro da derrota ou da total confusão que ele ri de nosso riso, mostrando-nos que entende esse caos por dentro e, em seguras braçadas, nada dentro dele quando então o máximo que conseguimos fazer é nos afogar... ” (no mínimo, esquisito).
Agora, a última. Será que vocês agüentam? Vamos tentar. Pra justificar aquelas piadinhas sem graça que aparecem nas histórias dele, Aracéli diz que quando as pessoas dão um sorriso amarelo é porque se sentem atingidas (será que entendi bem?). Leia você mesmo o que ela disse: “é que, em algum canto da nossa psique, começa a formar-se a percepção incômoda de que as besteiras que ele faz são as nossas, e que as figuras bem pensantes que riem dele e de seu nonsense também estão lá, dentro de nós, dizendo sempre que as coisas têm de ser bem claras, quando não científicas”.
Durma com essa.
M. Gushah